quinta-feira, abril 26, 2007

FAMINTA

Andava à procura duns papéis quando encontrei as minhas histórias antigas, ainda manuscritas. Como já estavam num armário da minha memória, ri-me bastante de algumas. Esta é uma delas, bem diferente das actuais, mas já com alguma pica.

O sol está a pôr-se e o dia foi quente. Mergulho na água tépida da banheira. A música que ouço faz-me ficar nostálgica. Esqueço-me do lugar em que estou. De repente, dou conta que a água arrefeceu e que o meu corpo está arrepiado, os meus mamilos são uma boa prova desse facto. Ligo a torneira da água quente e sinto o prazer da diferença da temperatura. Saio. Limpo-me. Largo a toalha. Vou para o quarto e ao entrar deparo com a porta do armário aberta: o espelho à minha frente. Aproximo-me para verificar se estou mais bronzeada. Gosto da minha cor. Resolvo espalhar o hidratante frente ao espelho. Devagar. Muito devagar. Começo pelo rosto, pescoço… seios. Demoro-me. Os meus mamilos enrijecem mais ainda. Tenho vontade de ser tocada por “alguém”. Continuo a pôr o creme. Nunca tinha percebido como é bom massajar toda a zona do ânus, desde a vagina ao fundo das costas. Sinto-me quente. Sento-me. As minhas pernas estão levemente abertas.
A campainha toca.
Vou nua abrir a porta. Era o rapaz da Pizza. Olhos de espanto.
- “Tem troco?”
- “Não, não, sim, sim...”
- “Então, afinal tem troco ou não?”
- “Não neste momento, mas se quiser posso mais tarde a menos que me pague com cheque.” (Afinal ainda raciocina)
- “De certo, entre.”
Encontro os cheques e preencho um sobre a arca que se encontra no escritório, frente ao corredor. A porta está aberta. A posição é incómoda, mas a secretária está cheia de tralha. O rapaz da Pizza encontra-se à porta, gostaria de saber para onde olha, mas estou de costas.
- “Já está, veja se está tudo correcto, B. I., endereço… é preciso mais alguma coisa? “
- Não, não!” Respondeu sem ver, está ruborizado. Espero, educadamente, que se retire. Continua a olhar.
- “É muito bonita, sabia?”
- “Deixe-se de conversas, está a trabalhar, não está?” Ainda grunhe qualquer coisa, mas eu consigo que se retire.
Encontro-me novamente só. Olho-me novamente no espelho. Tenho a Pizza na mão direita. Reparo nesse pormenor e recordo-me da fome que tenho. Coloco um vestido leve e simples e devoro o jantar.
Moral da história: a vida é cheia de decisões.
28 de Novembro de 1993

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